quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A águia e a galinha

“Era uma vez um camponês que foi à floresta apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em casa. Encontrou uma cria de águia. Colocou-a no galinheiro com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia seja o rei/rainha de todos os pássaros.
Cinco anos depois, o homem recebeu a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:

- Esse pássaro aí não é uma galinha. É uma águia.
- De facto – disse o camponês. É uma águia. Mas eu a criei como galinha. Ela já não é mais uma águia. Transformou-se numa galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
- Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
- Não, não – insistiu o camponês. Ela tornou-se galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
– Já que és uma águia, já que pertences ao céu e não à terra, então abre tuas asas e voa!
A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá em baixo, bicando grãos. E pulou para junto delas.
O camponês comentou:
– Eu disse, ela agora é uma simples galinha!
– Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no telhado da casa. Sussurou-lhe:
– Águia, já que és uma águia, abre tuas asas e voa!
Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, bicando o chão, saltou e foi para junto delas.
O camponês sorriu e voltou à carga:
– Eu disse, ela agora é galinha!
– Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas.
O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
– Águia, já que és uma águia, já que pertences ao céu e não à terra, abre as tuas asas e voa!
A águia olhou em redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.
Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kua-kua das águias e ergueu-se soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou... voou... até confundir-se com o azul do firmamento...
E Aggrey, o autor do conto terminou:
- Irmãos e irmãs, meus compatriotas! Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muitos de nós ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para bicar."

De James Aggrey

Leonardo Boff recorre a este conto como metáfora da condição humana. Ele é autor de livros com títulos bem sugestivos, não admira ser perseguido pela igreja...

Agora vou pesquisar mais sobre a sua Teologia da Libertação, que me explicaram sucintamente como uma tese em que o Homem perante uma situação devia libertar-se da sua condição humana e perguntar: se fosse Jesus, como ele resolveria isto? Jesus não tinha a limitação monetária, ele era livre e funcionava única e exclusivamente através da voz do Coração, do Amor.

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